1969 - QUANDO EU VIAJAVA DEPENDURADO NA PORTA DOS TRENS DA CENTRAL DO BRASIL.

Comecei a trabalhar na Av.Pres.Vargas no Centro com carteira assinada(carteira de trabalho de menor) em 1969 aos dezesseis anos,era morador de Curicica,Jacarepaguá,condução precaríssima,pegava o onibus 736 Cascadura-Curicica,descia em Cascadura para pegar o trem,30 Nova Iguaçú ou 41 Santa Cruz que tinham parada obrigatória nessa estação,às vêzes o 31 Japerí e 42 Matadouro que paravam vêz ou outra paravam,fora da estação devido ao fechamento do sinal e a gente corria para pegar sendo ajudado pelos passageiros que viajavam na porta aberta.Os trens sempre vinham lotadíssimos,um horror.Calor, cheiro de comida(algumas marmitas de alumínio envoltas em papel de pão vazavam)ou o mau cheiro,alguns vagões durante a madrugada eram usados como mictórios e as cabines desses vagões arrombadas para fazer o número dois,fora as "bufas"soltadas pelos mau educados,ainda tinham as vomitadas atrás das portas,uma coisa de louco.Imagine ficar 40 minutos a uma hora preso num vagão com capacidade para suportar 80 pessoas,onde quase 200 se acotovelavam,fora os tarados,pois de cada 10 passageiros,nove e meio eram tarados.Ninguém era perdoado.Jovens,senhoras,idosas,baixinha, até homem era encoxado sem dó nem piedade,sem falar que certos sujeitos que sem nenhuma pinta de gay ficavam com a mão boba e no aperta aperta do trem,a mãozinha ia descendo até lá nos "documentos alheios" e nas partes baixa,até abriam o ziper, se fosse permitido pelo sujeito que aceita essas palmeadas.Eu,como outros pingentes,ficávamos na estação aguardando todo mundo entrar no vagão e quando o trem estava saindo,era só correr e dependurar na porta aberta,segurando na pequena calha sobre as portas.O gostoso,a emoção era quando vinha um trem em alta velocidade na direção oposta,todos os pingentes jogavam metade do corpo para fora do vagão na frente do outro trem,quando o ele estava próximo a gente rapidamente voltava para o lugar de origem e a pancada que o deslocamento de ar fazia,batia no nosso corpo era incrível.O barato era esse, além do mais,tínhamos a vantagem de na hora do desembarque no pátio da Central,chegarmos primeiro na roleta giratória que permitia a saída da plataforma,como sempre a quantidade de passageiros imensa,a demora às vezes chegava 20 minutos ou meia hora e para chegar no pátio da estação fora das plataformas para acessar as ruas,e quando chegavam 3 ou mais trens ? A demora extendia-se a 40/45 minutos. Deixei de viajar dependurado na porta do trem quando um moleque presepeiro que estava viajando na porta em frente no meu vagão,desde a estação do Engenho de Dentro estava fazendo piruetas muito perigosas,tanto fez na entrada da Central, que no desvio das 6 linhas que se transformam em 12 na entrada para as plataformas onde o trem joga muito,e o balanço é muito grande,o infeliz descuidou-se o foi engolido pelas rodas de ferro bem grandes e assustadoras.Foi igual colocar carne para moer num moedor de carne.O sangue esparramou pelo trilhos,vagão.Foi um horror.Quando o trem chegou na estação,uma multidão de curiosos correu para ver os pedaços do pobre garoto.à partir desse dia nunca mais viajei nem perto da porta."FOI A MINHA DESPEDIDA DE 'PINGENTE DE TREM"